sexta-feira, 3 de junho de 2011

Algumas considerações acerca da importância do mito no contexto do pensamento platônico - Anallu G. Firme Lorenção




Nos Livros II e III do diálogo platônico A República, Sócrates envereda pela discussão a respeito da educação da classe dos guardiões, tema que, no percurso do diálogo, se impõe como uma etapa essencial do desdobramento da pólis, e, conseqüentemente, importante para o encontro da justiça, questão propulsora do diálogo. O início da educação será destinado a modelar, moldar, a alma do guardião, visando imprimir, marcar, em sua natureza dupla, ao mesmo tempo animosa e filosófica, as virtudes essenciais à sua constituição. Partindo deste contexto educacional da República, pretendemos, neste texto, indicar como o cuidado socrático, no primeiro momento da discussão sobre a educação, voltar-se-á para a constituição dos mitos, aqui pensados em seu caráter de imagem, uma vez que elas aparecem como os primeiros moldes, modelos educacionais.  

Acreditamos que as imagens mitológicas, responsáveis pela primeira orientação educacional, constituem, neste momento inicial, a base, o fundamento, da educação. Elas serão compreendidas como os modelos que norteiam a formação e apresentam aos aprendizes as virtudes necessárias a serem interiorizadas. Neste contexto, o ambiente sensível é o que ocasiona uma impressão norteadora, direciona o guardião, e lhe permite, futuramente, reconhecer o caminho da verdade.      

A conhecida censura platônica às imagens míticas de Hesíodo e Homero, presentes nos Livros II e III, só se tornam compreensíveis se visualizarmos anteriormente a importância concedida às imagens neste momento inicial. É só por sua suma importância e potencialidade, no momento preciso da formação da classe dos guardiões, que se torna necessário todo o cuidado atento na manutenção e censura dos mitos, que, mesmo na nova proposta educacional platônica, permanece como a etapa inicial intransponível da educação. 

A ambição de afirmar a importância das imagens sensíveis a partir da República pode parecer, a princípio, estranha, uma vez que nos habituamos a encontrar no diálogo uma das mais claras distinções entre os âmbitos sensível e inteligível, ilustrada com freqüência pela imagem da linha dividida, pelo mito da caverna; bem como a recorrentemente afirmada hierarquização entre os âmbitos, onde as imagens e o sensível são apontados como etapas a serem vencidas na busca pelo conhecimento e pela verdade. Também se localiza na República a expulsão platônica dos artistas da pólis, sobre a acusação de suas obras distarem três graus da verdade; expulsão que guarda o peso de ser a mais conhecida opinião do autor sobre a arte. Sabemos que o texto platônico nos fornece elementos teóricos para sustentar a necessidade de se alcançar o âmbito inteligível no caminho pelo conhecimento verdadeiro, e tomando como base esta necessidade, a imagem se apresenta falha à medida que pode propiciar o engano e o erro. Mas também é importante assinalar que existem outros enfoques e possibilidades de abordar a questão da imagem dentro do diálogo A República e do pensamento platônico. Acreditamos que a maneira como a educação dos guardiões é elaborada pelo pensador nos fornece elementos textuais significativos para problematizar a interpretação corrente que identifica em Platão apenas um depreciador da imagem e do sensível.

Diante da aparente ambigüidade que o texto nos apresenta, entre a necessária presença das imagens no contexto educacional e a também necessidade de se transcender o âmbito imagético para se alcançar a verdade, a questão que nos motiva, neste momento, é saber qual a função das imagens neste caminho educacional, que, da maneira como Platão nos apresenta, parece não ser passível de ser menosprezada, uma vez que ocupa uma boa parte da discussão sobre a formação e é necessária, pelo menos, durante várias etapas do processo de constituição do guardião.          

Apesar de aparentemente intencionar construir uma educação sobre novas bases, que não as afirmadas pela tradição grega, Sócrates inicia sua discussão sobre o tema da educação aderindo ao costume paidêutico tradicional: ginástica para o corpo e música para a alma[1]. O começo da educação deverá ser destinado à alma e marcado essencialmente pela Música, arte das musas, e conseqüentemente pelo logos, linguagem. Na linguagem, ainda seguindo a tradição, decide-se por começar através da enunciação dos mitos. Posteriormente, veremos que mesmo a ginástica será, em última instância, considerada uma formação destinada à alma, e irmã gêmea da Música, uma vez que ambas têm a função de ajustar harmonicamente as seguintes características dos guardiões, coragem e sede do saber[2].     

O lugar comumente aceito dos poetas na educação dos jovens gregos e a força pedagógica dos mitos, enquanto os primeiros discursos formadores, são questões não problematizadas pelo pensador nas suas considerações sobre a educação pela música. Quando questionado por Adimanto a respeito de que mitos devem ser contados, Sócrates, por sua vez, marca expressamente a sua diferença em relação ao poeta. Ele se autodenomina um “fundador de cidade”, cuja função é conhecer os modelos segundo os quais os poetas plasmaram suas concepções e não permitir que se afastem deles[3]. Tendo como base essa passagem, fica evidente para nós que não compete aos fundadores da pólis a tarefa de construir mitos, trabalho destinado aos poetas. Cabe-lhes, por outro lado, o exercício de manter a composição dos mitos com vistas ao seu fim último, a saber, o de formar os guardiões nas virtudes[4].

O cuidado socrático, como um “fundador de cidade”, limitar-se-á, neste momento inicial da discussão sobre a educação, a passar em revista o conteúdo dos mais importantes mitos tradicionais gregos. O filósofo manterá na pólis apenas os que expressam, em seus conteúdos imagéticos, virtudes, que sirvam de modelos à classe necessitada de formação; os outros, contrários a proposta, são censurados e excluídos da cidade. Os conteúdos dos mitos precisam, desta forma, estar ajustados e em concordância com as virtudes necessárias à classe específica a quem a formação se destina. Nas passagens dos Livros II e III onde ocorre a discussão referida, as virtudes cardinais essenciais a classe dos guardiões, a saber, a sabedoria, a coragem, a temperança e a justiça, ainda não foram elencadas expressamente. É interessante como a análise do conteúdo dos mitos, ou seja, a maneira como os deuses, os heróis, o Hades e os homens devem ser representados nas construções imagéticas, já está, de algum modo, fundamentada nas quatro virtudes, que só serão efetivamente enunciadas e esclarecidas posteriormente no Livro IV. A análise do conteúdo dos mitos apresenta-se, desta maneira, como uma antecipação do tema relativo às virtudes cardinais essenciais aos homens do Livro IV. Esta antecipação torna-se evidente quando percebemos como a discussão sobre os deuses vincula-se à virtude da sabedoria, a sobre o Hades à coragem, a sobre os heróis à temperança e a sobre os homens à justiça. Parece-nos que as quatro virtudes são os modelos, acima mencionados, nos quais os poetas da cidade platônica precisam se fiar para plasmar suas concepções expressas nos mitos. Os “fundadores de cidade”, por sua vez, necessitam conhecê-los e cuidar para que a educação da classe se encaminhe no sentido de uma formação para as virtudes, formação que necessariamente se inicia com a imersão das crianças na linguagem mitológica.         

Parece-nos que mitos, neste momento inicial, serão censurados por seu caráter imagético e sensível, pelo contrário. É pela importância e função das imagens, no inicio da educação, que será necessária toda a preocupação em analisar o conteúdo dos mitos a fim de manter no ambiente da pólis apenas os que sirvam para a proposta educacional preconizada. Os mitos se inserem, neste contexto, como modelos educacionais, que através de imagens sonoras apresentam, indicam os valores essenciais à constituição da classe a quem a formação se destina.
 
Podemos perceber esta importância dos mitos em uma passagem do Livro II, essencial para a compreensão da abordagem aqui proposta. A afirmação socrática versa em torno do significado do mito: Ora, essas histórias, de modo geral são mentirosas, porém contêm algo de verdadeiro[5]. Sócrates, na afirmação referida, antes de discutir o conteúdo dos mitos passíveis de serem apresentados aos guardiões, assinala expressamente a sua essencial ambigüidade. A narrativa mitológica é, desta forma, pedagogicamente requisitada por seu caráter de mentira, pseudos, e também de verdade, alethéia, ambos apresentados como necessariamente inclusos na educação, com a ressalva de ser imprescindível começar pelo discurso falso, logos pseudos.

Esta caracterização do mito, presente do Livro II da República, nos parece importante dentro do contexto do pensamento platônico, uma vez que aproxima numa mesma sentença a ambigüidade de tratamento do autor sobre o tema em questão. Esta ambigüidade também pode ser identificada em outros contextos dos diálogos, quando nos deixamos encaminhar pelo próprio texto platônico e não pela leitura tradicional que, na ânsia de definir e circunscrever a filosofia contrapondo-a à mitologia, tende a salientar e interpretar de maneira apressada apenas as passagens onde o filósofo atribui uma função secundária ao mito ou o desqualifica ao compará-lo ao lógos filosófico. Não temos a pretensão, neste momento, de fazer uma análise geral do pensamento platônico sobre o tema em questão, nem de afirmar que no conjunto das obras platônicas todas as considerações do autor sobre o mito tendem a um único sentido. Nossa abordagem da sentença citada pretende, por outro lado, pensar a ambigüidade de caracterização do mito como um caminho possível para pensar a função da imagem na educação dos guardiões. Parece-nos possível propor esta aproximação, uma vez que os mitos aparecem no Livro II como as primeiras imagens formadoras dos guardiões.         

A ambigüidade da afirmação referente o mito nos suscita um questionamento a respeito de como a verdade e a falsidade podem ser compreendidas a fim de que se conjuguem desta maneira. Como o mito pode ser verdadeiro e falso? O caminho educacional construído por Sócrates terá seu início marcado pelo logos falso, mitológico, para posteriormente encaminhar-se para o verdadeiro, encaminhamento que tendemos a compreender a partir da distância geralmente afirmada entre o mito e a filosofia. O texto platônico, entretanto, nos apresenta um elemento textual que nos permite problematizar a distância freqüentemente aceita entre o mito, compreendido como um discurso ficcional, falso, e a filosofia, associada à verdade apenas acessível pelo entendimento. O mito também contém algo de verdadeiro[6], e precisa apresentar-se como uma mentira bem contada[7], que guarde fidelidade com a dimensão original à qual faz referência.
        
A falsidade, a mentira, do mito é facilmente identificada a partir do seu caráter narrativo. As histórias mitológicas narradas não ambicionam representar fidedignamente os âmbitos e as experiências a que recorrem. Elas podem ser consideradas falsas, se recorremos à necessidade de verificabilidade, uma vez que não são passíveis de serem conferidas ou verificadas, pois estão associadas a dimensões desconhecidas pelo homem. Um dos motivos pelos quais elas são necessárias é por se apresentarem como a única maneira de enunciar determinados assuntos, que na insistência humana pelo conhecimento permanecem como questões essencialmente desconhecidas[8]. Estas questões geralmente vinculam-se a dimensões ocultas, instâncias aos quais lhe foi privado o conhecimento, como o antes do nascimento e o depois da morte, impossíveis de serem indicadas pela linguagem sem se resguardar o seu mistério característico. Parece-nos ser por seu próprio caráter de ocultação, de mistério, que estas questões precisam sempre permanecer no âmbito da linguagem, entrelaçadas à falsidade, necessária, desta forma, para mantê-las fieis ao seu modo de ser próprio.

A imagem formada na narrativa, antes de significar algo para além dela, apresenta uma realidade plástica cuja força não está em explicar a superioridade da verdade, mas sim em apresentá-la, impô-la de alguma maneira, ou seja, a narrativa não explica, não se vale de uma argumentação lógica, o seu discurso é impositivo, à medida que estabelece imageticamente uma verdade. Parece-nos que a verdade do mito se institui imediata e imperceptivelmente, em detrimento do sentido vinculado à capacidade de entendimento do homem. O sentido, nesta experiência, acaba constituindo uma instância secundária, que muitas vezes permanece encoberta, face à força imagética do discurso falado. A experiência do mito aproxima-se, desta forma, neste momento, a uma experiência estética, onde a vivência da imagem discursiva promove uma sensação que, de alguma maneira, passa a orientar o homem. A força da sua reincidência, neste contexto educacional, impregna, penetra, fixa a sua marca nos cidadãos, e, deste modo, é capaz iniciar a sua formação.

Esta maneira da verdade se apresentar no mito, entretanto, não está vinculada à verificação nem à comprovação empírica. É evidente que as histórias fantásticas às quais os poetas recorrem não são derivadas de nenhum acontecimento efetivo que possa servir de parâmetro avaliativo para o mito. Parece-nos que a verdade apresenta-se no mito apenas como uma indicação, um aceno, uma marca plástica de direção. Direção esta que, apesar de aparecer para os espectadores como a certa a ser seguida, não fornece os elementos necessários ao esclarecimento da sua suposta exatidão. Mas mesmo sem ser passível de ser compreendida, acreditamos que, neste contexto, o mito, enquanto a primeira imagem educacional, assume a função de encaminhar, por sua força de contágio, a um aceno, a um vislumbre da verdade.

Sócrates, antes de começar a análise dos mitos, afirmará a necessidade de se contar “bem” a mentira mitológica. Segundo o filósofo, não são todas as narrativas que retratam as coisas como elas efetivamente são em sua essência. Ele exemplifica a questão explicando que muitas vezes Hesíodo e Homero fizeram uma descrição errônea do que se propuseram a retratar[9], como mostram as suas narrativas sobre os deuses e os heróis que os apresentam se portando muito diferente da maneira como eles realmente são. A requisição socrática de apresentar os deuses tal como eles são em sua essência[10] fundamenta-se no perigo associado à enunciação de determinadas fábulas, uma vez que elas são vistas como exemplos, modelos para a formação dos indivíduos. Mesmo assumindo o sentido alegórico das histórias, vemos que Sócrates continua afirmando a importância da construção de imagens mitológicas voltadas para as virtudes, base da formação dos guardiões. Sobre a questão nos diz Sócrates: Por isso mesmo, importa, antes de mais nada, que as primeiras criações mitológicas por eles ouvidas sejam compostas com vistas à moralidade[11].   
  
Na ambigüidade da caracterização platônica do mito, o que nos parece importante de ser assinalado é como, na educação dos guardiões, a força do discurso mitológico aparece associada ao seu caráter de velamento, ocultação. Ou seja, a particularidade do mito, que muitas vezes é apontada, mesmo pelo próprio Platão, como o seu caráter problemático, pois não concede a sustentação necessária para explicar e questionar o que está apresentado, na educação dos guardiões constitui a positividade do seu elemento formador. 

Os mitos precisam, desta forma, ser censurados e vigiados por seu grande caráter formador. É necessário para a constituição da classe dos guardiões que só restem e se mantenham na cidade os que forem compostos para o fim almejado, a boa formação da classe. A crítica tecida por Platão aos poetas formadores da cultura grega, Hesíodo e Homero, só pode ser compreendida se não deixarmos de vislumbrar a intenção do filósofo neste momento preciso do diálogo. Assim como os poetas, todos os artífices produtores de imagens, para permanecerem na pólis, precisam manter-se fiéis a proposta educacional. A respeito desta questão nos diz Sócrates:
Mas, teremos de restringir nossa vigilância apenas aos poetas, para obrigá-los a só representar em nossas composições modelos de bons costumes, sem o que deverão abster-se de compor entre nós, ou precisaremos estender aos demais artistas esta fiscalização, para impedi-los de representar o vício, a intemperança, a baixeza, a indecência, tanto na pintura da vida como na das construções e em todos os trabalhos dos artesãos, ficando proibido exercer a sua atividade entre nós quem não puder obedecer a essas determinações? É de temer que venham crescer os guardas no meio de imagens do vício, como num pasto nocivo, em que colham e ingiram pequenas, porém reiteradas doses de veneno das mais variadas espécies, do que resulta causarem na alma, imperceptivelmente, dano irreparável[12].
Deste modo, tendo em vista a importante função dos mitos e a formação específica que se busca construir, faz-se necessário um processo de triagem, onde serão revistos todos os mitos formadores, e permanecerão apenas os que acompanham os tipos, os modelos, necessários à constituição do guardião.



[1] PLATÃO, República. Tradução de Carlos Alberto Nunes, Belém: EDUFPA, 2000. 376e.
[2] Ibid., 411e.
[3] Ibid., 379a.
[4] Ibid., 378e.
[5] Ibid., 377a.
[6] Ibid., 377a.
[7] Ibid., 377d.
[8] Ibid., 382d.
[9] Ibid., 377d-e.
[10] Ibid., 379a.
[11] Ibid., 378e.
[12] Ibid., 401b-c.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

"A deificação humana na Fenomenologia do Espírito de Hegel e suas consequências na ciência contemporânea" Prof. Ms. Vitor Hugo Fieni

A deificação humana na Fenomenologia do Espírito de Hegel
e suas consequências na ciência contemporânea.

Prof. Ms. Vitor Hugo Fieni

Resumo: Este artigo pretende mostrar como que a filosofia de Hegel foi o momento onde o pensamento humano foi capaz de sugerir de forma conceitual que a razão humana é a causa de tudo que é real e, por isso, tem a possibilidade de conhecer filosófica e cientificamente todas as coisas e tomá-las como produto da própria razão, do Si. Este movimento, onde a consciência-de-si sabe-se como o todo, permite que pensemos em uma possível deificação humana, que nada mais é do que um acabamento último de todo o empreendimento filosófico transcorrido ao longo da história do pensamento ocidental. Veremos aqui que os acontecimentos atuais correspondentes a este pensamento hegeliano são as realizações feitas nos dias atuais pela ciência contemporânea que, através das experiências com nanotecnologia e da construção e funcionamento do Grande Colisor de Hádrons, fazem com que o homem seja o senhor da realidade não apenas no mundo do pensamento, mas também no campo da vida efetiva do mundo empírico.

Para que este tema se torne acessível, farei aqui uma explanação do que seria isto que chamo aqui de deificação humana na Fenomenologia do Espírito de Hegel. O que devemos saber, primeiramente, é que nesta obra de 1807 o filósofo, na sua atividade de observador da realidade, nota que a sua época é uma época que é um resultado de um processo histórico milenar de antropomorfização dos deuses, assim como de toda essência e substância do mundo fenomênico humano. O homem moderno do início do século XIX já identifica toda a substância religiosa, artística, cultural, política e filosófica como uma obra sua, ele vê que toda essência que o circunda não é outra senão a sua própria.
Ao notar este antropocentrismo e escrever sobre tal entendimento que ele enquanto pensador alcança, Hegel acaba por dar vida a esta ideia de que o homem é divino, ou melhor, que carrega em si mesmo toda a substância e verdade do mundo em que vive. É em pensando este processo de deificação humana ocorrido através dos séculos que Hegel também deifica o homem. Se tal deificação não fosse pensada ou notada ela não seria, simplesmente, pois o que faz, para o próprio Hegel, algo ser real é ser objeto do pensamento do homem.
A antropomorfização da substância constatada pelo filósofo foi tamanha que ele chegou a notar que o conteúdo, a essência de toda a realidade, passou a ser considerada pelos pensadores modernos que o precederam, como propriedade da razão humana, mas isso ainda se dava de modo inconsciente. Kant, por exemplo, já na Crítica da razão pura, observou que todo o conhecimento que o homem possuía advinha das categorias existentes na razão humana que, por sua vez, permitiam que se pudesse conhecer o que fosse possível a esta mesma razão, dada as suas limitações, como, por exemplo, a da impossibilidade de se conhecer a coisa em si.  Por conta disso Hegel nota que já em Kant a razão já se sabia como a fundadora de todo o real, mas inconsciente de ser ela mesma a fundadora da base de todo o conhecimento acaba por ter receio de conhecer a Deus, pois ainda O via como um ser que a ultrapassava. Ao ver na sua época uma forte influência da filosofia de Kant, que se auto-impotencializou para conhecer o absoluto, é que Hegel diz que sua época vive diante de uma “sensação de que Deus ele mesmo está morto”[1]. Se Deus não é racionalizável a sua efetividade está comprometida e sua realidade igualmente. O mundo e toda manifestação fenomenológica existente deve ser racional, pois caso contrário ela não poderia ser. A partir destas ideias de Hegel se pode recordar a máxima parmenidiana que exclama que “o mesmo é ser e pensar”. A capacidade de conceituação da realidade, mesmo que precária, é a condição de toda existência, e isso se dá através do lógos. A linguagem faz do real o efetivo e do efetivo o real. Se é dito que Deus não pode ser conhecido, pensado, se não se puder falar e pensar sobre Ele e sobre isso que é a Sua essência, Deus não é. E é isso que Hegel constata de sua época e o vê essencialmente na filosofia de Kant, Jacobi e Fichte.
Mas o que Hegel chama de morte de Deus não é apenas um resultado da antropomorfização da essência feita pelas religiões[2], mas é o resultado disso que pode e deve ser entendido como a morte, ou impossibilidade de se conhecer a coisa em si. A substancialização da razão humana, mesmo que feita de modo inconsciente, esvaziou o interesse pelo conhecimento da essência de Deus. Esta, por ser tida como impossível de ser perscrutada, deu lugar à consciência-de-si humana como lugar para ser pesquisado. Desacreditou-se, então, a possibilidade de se conhecer o ser de Deus e o resultado disso é a morte da metafísica. Mas se, por um lado, morre a possibilidade de se conhecer a Deus, por outro, nasce a possibilidade de se conhecer o homem e santificá-lo através da ciência. Ou seja, para Hegel esta tese kantiana – da impossibilidade de se conhecer a coisa em si – diz à razão que Deus não pode ser conhecido e, em não podendo ser pensado racionalmente, Deus também não pode existir, pois o que pode ser pensado é aquilo que possui racionalidade e apenas o que é real é que pode ser chamado de racional. Porém, a capacidade de se conhecer isso que é o homem nunca foi questionada com afinco na modernidade. Contrariamente, o homem sempre foi visto como aquele que garante a existência do real, o que ficou muito explicito com a máxima cartesiana do ego cogito.
Os pensadores pré-hegelianos, embora declarassem a inviabilidade de se conhecer isso que é substância do próprio pensar, foram capazes de dar à consciência humana a certeza de ser ela mesma o desde onde toda a realidade ganha existência. Mas embora fizessem isso, embora já houvessem permitido que a razão identificasse toda a realidade como sendo causa sua, isso não era suficiente para que este tipo de pensamento se aplicasse a Deus. Tais pensadores, para o próprio Hegel, não tiveram a fé suficiente na razão, a confiança de que ela poderia os levar até a máxima manifestação disso que é o real, a saber, a manifestação divina.
Hegel dá, então, este passo na Fenomenologia do Espírito fazendo com que o infinito se realize no finito e que o finito se realize no infinito. Este é um modo de ressuscitar aquele Deus que antes estava morto, porém a sua existência vai se dar agora desde a razão pensante do homem. Assim, Hegel junta as antíteses eliminando as suas contradições na medida em que permite fazer notar que o fundamento e causa dos contrários se encontram nos próprios contrários. O fundamento da essência se dará na consciência-de-si humana e vice-versa. Esta interdependência dos contrários, de inspiração claramente heraclitiana, permitiu que a essência e a consciência-de-si se encontrassem de um modo progressivo, fato este realizado pela dialética das religiões efetuada no capítulo VII da Fenomenologia do Espírito. Religião natural, religião da arte e religião manifesta (cristã); estas são as etapas onde Hegel identifica uma progressiva antropomorfização da essência e a sua adequação à consciência-de-si humana. Explicar aqui estas três formas de religião faria com que nós nos detêssemos demais nestas figuras, dada a sua pluralidade e profundidade. O que devemos tomar aqui como consciente é apenas o fato de que na religião natural (persa, indiana e egípcia) o que se tem é uma essência que não reflete a imagem da consciência-de-si, ou seja, a figura humana. Na religião da arte (grega), ao contrário, o que se percebe é uma substância que é uma obra humana que reflete a sua imagem perfeita. Já na religião manifesta (cristã) o que se tem é uma essência divina imutável que se faz consciência-de-si humana mutável e passível de morte. Cristo é para Hegel a figura do espírito que une perfeitamente as polaridades antes afastadas. É uma figura na qual o homem se sabe deus e deus se sabe homem. Diz Jesus, “quem me vê vê o Pai”. Com isso torna-se indistinguível na sua pessoa o que é aquele Em-si primeiro substancial, eterno, imutável e o que é o homem em toda sua sensibilidade e perenidade.
Em Jesus a consciência-de-si identifica-se então com a substância, mas como esta identidade se dá pelo amor, ou seja, pelo sentimento, ela deve ser, assim, substituída por uma identidade superior, racional, e não sentimental, porque no desdobramento do espírito e de seu auto-conhecimento, o que é racional está sempre acima, de modo hierárquico, daquilo que é sentimental, e que se liga com uma condição natural, não intelectual e, por isso, menos elevada. Segundo Hegel, a síntese realizada por Cristo entre finito e infinito, consciência-de-si e substância, deve encontrar assim sua superação na reconciliação feita pela filosofia hegeliana entre finito e infinito, consciência-de-si e substância. Se Cristo unia os apostos pelo amor, Hegel o fará pelo conceito. Não seria então mais a fé, mas o conceito, o saber científico, que faria com que a consciência tivesse como conteúdo o absoluto. Religião (cristã) e filosofia (hegeliana) são para o próprio filósofo momento nos quais o espírito se sabe como espírito, a diferença será apenas no modo como isso ocorre. Ou sentimento ou conceito.
A identificação feita pelo filósofo do Si humano como sendo toda a realidade é uma consequência que se dá da seguinte forma que será chamada por nós aqui como sendo o antropo-panteísmo hegeliano.
O termo antropo-panteísmo não carece aqui de grandes explicações, pois o que com ele se quer dizer se entende logo quando se lê tal expressão. Ou seja; não se fala aqui de um panteísmo da substância, o que nos levaria fatalmente à filosofia de Espinosa e de tal modo Hegel não teria para si mérito algum em termos de “novidade” intelectual. O panteísmo ao qual nos referimos é o panteísmo da consciência que em tudo vê a si mesma. O que ela encontra no objeto e nas leis da natureza é um reflexo dela mesma (Consciência; cap. I – III da Fenomenologia); quando ela se defronta com uma outra autoconsciência o que ela conquista é o seu saber-de-si autoconsciente (Consciência-de-si; cap. IV); no mundo da eticidade, no mundo da cultura, a consciência (coletiva, de um povo) não se dá com outra coisa senão consigo mesma (Espírito; cap. VI) e enfim, quando fala de Deus e para este se dirige, o que a consciência faz é tomar para si um conhecimento disso mesmo que ela é, a saber, espírito (Religião, cap. VII). Como Razão (cap. V) a consciência-de-si “está certa de que toda a efetividade não é outra coisa que ela”[3]. Hegel escreve ainda que “a razão é a certeza da consciência de ser toda a realidade”[4]. Aquilo que era tomado como um “ser-outro, como em si, desvanece para a consciência”[5]. Na razão a consciência tem a certeza de que ela “é toda a realidade”[6]. Isso, porém, não significa que não haja um outro que difira de mim, mas o que diante disso deve ficar claro é que a diferença existente é “uma diferença que ao mesmo tempo não é diferença nenhuma”[7]. Por fim, no Saber Absoluto (cap. VIII), a consciência – que faz um caminho de rememoração dos espíritos[8] – toma para si o seu mundo, seu presente, “descobre-os como propriedade sua”[9]. Mais uma vez, o filósofo nos deixa bem claro o que pensa ao dizer que “a coisa é Eu[10][11]. O espírito é “a transformação desse Em-si no Para-si; da substância no sujeito[12]. Na ciência do saber absoluto não existe também uma diferença entre o saber e a verdade. O que se toma como verdadeiro e substancial não é algo que se distingue da consciência-de-si em-si e para-si. É esta que sabe que a diferença existente é diferença nenhuma. Há, de fato, o outro substancial, mas este não é Outro no sentido positivo do termo. Assim é que a consciência-de-si se identifica com o todo e ela se faz absoluta justamente por conta desta identidade. Em tudo a consciência-de-si que sabe se vê a si mesma, seja na natureza imanente seja na substância transcendente. É nisso que consiste o antropo-panteísmo[13] hegeliano.
Para Hegel a humanidade é causa da sua política, causa da sua cultura, da sua arte, da sua religião e filosofia, sendo esta última a instância na qual tudo se revela à humanidade como criatura sua desde si e para si mesma. Hegel assim coroa o sistema cartesiano e seu modo de garantir a existência indubitável da realidade a partir do ego. A diferença é que para Hegel aquele ego cogito seria expresso de forma mais clara como cogitamus, pois o ego que se sabe a si mesmo na filosofia de Hegel é coletivo e ultrapassa a mera subjetividade individual, na qual o espírito submergiria se somente a ele estivesse destinado. Espírito é justamente o movimento que inclui a subjetividade individual na esfera do todo e Hegel deixa isso bastante claro ao dizer que o espírito é um Eu que é um Nós e um Nós que é um Eu. Nós é toda a realidade fenomenologicamente experienciável da consciência da humanidade. O espírito é esta realidade e, também, por outro lado, a própria consciência dessa realidade. Mas não esqueçamos que o espírito é a transformação “da substância no sujeito”. É ele, o sujeito (coletivo e individual) que pensa, que raciocina de forma consciente de ser toda a realidade, ele é que identifica toda a substância como sendo o Si individual.
É por conta destas asserções que consideramos haver em Hegel uma deificação humana dada a antropomorfização máxima da substância que ele promove. Mas alguns poderiam nos dizer: “Hegel não promove a antropomorfização da substância, ele apenas a constata”, a estes nós diríamos que isto que Hegel constata é em sendo constatado que passa a existir e ser real. Ou seja, quando Hegel lê a realidade para nós e a ela ele nos apresenta, ela, a realidade, é mostrada desde o modo hegeliano de ver a realidade. A antropomorfização de deus nas religiões não é um ponto de vista aceito universalmente (pelo menos do ponto de vista da fé cristã ocidental essa antropomorfização é um disparate), mas é o ponto de vista de Hegel. Em mostrando o seu ponto de vista da realidade Hegel promove sim uma antropomorfização. A sua própria filosofia diz que algo só é a partir de quando é pensado, bem, a antropomorfização dos deuses é pensada de forma dialética por Hegel, então é por meio do seu pensamento que a antropomorfização da substância se faz real.
Dado isso, devemos passar agora às considerações de quais seriam as consequências causada por essa deificação humana na ciência contemporânea e tentemos entender estes paralelos.
O fato de a filosofia hegeliana dar ao homem a fé de poder se unir à essência, à substância, através da ciência, é o principal ponto para o qual devemos atentar. Acreditar na razão humana a ponto de apostar todas as fichas de que ela é capaz de entender tudo, até mesmo a essência de Deus. Embora estas teses tenham rendido a Hegel uma conta notável de adversários, é preciso que se admita que esse pensamento não morreu com o filósofo em 1831. De modo contrário, vemos em nosso tempo atual um ressurgimento dessas pretensões desmedidas e o seu reflexo se mostra claro nas mais inovadoras pesquisas sobre nanotecnologia assim como nas pesquisas com o Grande Colisor de Hádrons. A princípio esse tipo de afirmação poderia nos parecer um tanto quanto disparatadas, mas se nos permitirmos realizar uma investigação com boa disposição de espírito a esse respeito veremos que as ligações podem ser feitas sem grandes dificuldades.
É claro que o tempo que separa a Fenomenologia do Espírito da construção do LHC deve ser levado em consideração. Mas esse intervalo não deve nos impedir de dizer que ambas as épocas se tentou algo parecido: a deificação humana. Mas a tentativa de tornar o homem um Deus não deve ser entendida de forma religiosa, mas deve sim ser compreendida como uma substituição do Deus transcendente pelo deus imanente, pelo homem enquanto senhor de si e senhor da natureza.
Esse tentativa de deificar a humanidade é antiga. A Babilônia e o Egito são exemplos clássicos de como no mundo antigo essa pretensão já existia. Porém, eles ainda estavam inaptos tanto filosoficamente quanto cientificamente para empreender este feito. O giro antropocêntrico causado na modernidade e o desenvolvimento tecnológico crescente permitiram que este intuito de elevar a razão humana a níveis jamais antes alcançados foram as bases que permitiram alavancar este empreendimento. O começo do século 19, passado as Grandes Navegações, a Reforma protestante, o Renascimento, o Iluminismo a Revolução Francesa e o Romantismo, permitiu que Hegel, em 1807, escrevesse a trajetória da experiência da consciência rumo àquilo que ele chamou de saber absoluto. Este era o momento diante do qual a humanidade poderia olhar para trás, para todas as eras e séculos passados, avaliar a sua caminhada, o seu progresso e julgar, sem medo de errar, que ela mesma (a humanidade) era a construtora de tudo o que é real e experienciável no mundo. Para Hegel o homem filósofo era já no seu tempo capaz de olhar toda a realidade e ver nela um reflexo de si mesmo. Cultura, arte, religião e filosofia deveriam ser entendidas como alienações do Si humano. Deste modo este Si poderia se auto-proclamar, pela primeira vez com razão de fazê-lo, poderia se auto-proclamar o Senhor da realidade.
Nos dias atuais, diante das incríveis descobertas da física atômica, da física quântica, de toda a ciência nuclear e com a surpreendente completude do mapeamento genético humano, diante dessas descobertas e estudos jamais antes realizados, nos vemos diante de um mundo que parece querer tomar um novo rumo, pois algo surpreendente parece que nos aguarda. Há uma passagem no § 11 da Fenomenologia do Espírito que poderia ser reproduzido hoje por nós e ser, assim, reatualizado. Lemos assim: “não é difícil ver que nosso tempo é um tempo de nascimento e de trânsito para uma nova época. O espírito rompeu com o mundo de seu ser-aí e de seu representar, que até hoje durou; está a ponto de submergi-lo no passado, e se entrega a tarefa de sua transformação”[14]. Tomemos um exemplo sobre a nanotecnologia e vejamos como, de fato, o nosso tempo está a ponto de ser totalmente revirado por estas novas descobertas: a experiência de criar nano-células, ou seja, células robóticas capazes de caçar e destruir células malignas, assim como capazes de reproduzir novas células no lugar das que morrem, já é um experimento real e que não é mais segredo nenhum. O que ainda parece ser segredo é se esses experimentos estão sendo utilizados em humanos ou não. Mas o fato é que já se vê cientistas com quase 60 anos dizendo abertamente que crêem que antes mesmo de que eles morram já se terá alcançado o milagre da vida eterna[15]. Isso aconteceria através das nano-células que serão capazes de dar conta de reproduzir e produzir o rejuvenescimento biológico. Poderíamos contar entre essa, muitas outras peripécias, como a capacidade de gerar no ventre materno uma criança projetada com o gosto estético dos pais, assim como elevar a sua capacidade intelectual a níveis bem acima do comum ainda no ventre da mãe. Estas são conquistas já realizadas pela humanidade atual que os maiores ocultistas e alquimistas da idade média jamais poderiam imaginar. Somente hoje a ciência permite que o homem toque naquilo que antes era intocável, misterioso e sagrado. A ciência parece ter rompido com as inúmeras barreiras de uma escuridão que durou vários e vários séculos. Como se diz habitualmente, agora é possível que o homem brinque de ser Deus, mas essa brincadeira parece já ter ficado séria o bastante para perder qualquer caráter lúdico. A construção do maior acelerador de partícula de todos os tempos que o diga! O LHC (Grande Colisor de Hádrons) é a maior e mais cara invenção humana de todos os tempos. Ele fica em um laboratório que consiste em um túnel de 27 km de circunferência e que fica a 175 metros abaixo do solo na fronteira entre a França e a Suíça. A sua missão é colidir partículas de prótons à uma velocidade próxima a da luz, ou seja, 300 mil km/seg. Com isso se espera que esta máquina (que custou o equivalente a 8 bilhões de dólares) se possa recriar os instantes posteriores ao Big Bang e obter, assim, informações chaves sobre a formação do universo e a confirmação, ou não, da teoria física baseada no Bóson de Higgs[16]. Em outras palavras, explicar o que seria aquilo que constitui a essência de todas as partículas da natureza, é isso que também se pretende com o LHC, alcançar o que foi intitulado pelos cientistas do CERN como a “partícula de Deus”.
Cabe a nós nos perguntarmos em caráter de urgência: estaria toda a pontencialidade destas invenções sendo divulgadas realmente? Em que níveis de avanço essas pesquisas realmente andam? Até que ponto poderíamos esperar que estas descobertas serão usadas depois ou antes de um confronto militar ou ideológico na qual elas seriam aproveitadas? O fato é que a comunidade acadêmica, especialmente a área de humanas, curiosamente parece fazer vistas grossas a esses acontecimentos. Mas a quem esses conhecimentos vão servir?
Falar novamente da morte de Deus, nessas alturas do campeonato, parece não ser algo que choque mais a muitas pessoas. Como dizia Hegel, bem antes de Nietzsche, Deus parecia já ter morrido ao final do século XVIII. E foi diante deste tempo de morte do sagrado que ele escreveu a Fenomenologia do Espírito e a concluiu com o seu ousado capítulo sobre o saber absoluto, que foi a porta de entrada de todo humanismo e ateísmo do século XIX. Mais uma vez, nos vemos diante de uma revolução que afasta o homem completamente dos seus suspiros religiosos, pois grande parte daquilo que era considerado como obra de Deus parece agora que agora encontra um novo artífice pelas mãos humanas. O que a filosofia cumpriu a 200 anos atrás pela pena de Hegel a ciência parece cumprir somente agora através das incríveis descobertas e experiências feitas pelos cientistas contemporâneos.
Bibliografia

HEGEL. Fé e Saber. Trad: Oliver Tolle. São Paulo: Hedra, 2007.

______. Fenomenologia do Espírito. Trad. Paulo Menezes. 3. ed. Petrópolis, RJ: Editora Vozes e Editora Universitária São Francisco, 2005.

KOJÈVE, Alexandre. Introdução à leitura de Hegel. Trad. Estela dos Santos Abreu. Rio de Janeiro: Contraponto: EDUERJ, 2002.


[1] HEGEL. Fé e Saber. Trad: Oliver Tolle. São Paulo: Hedra, 2007. p. 173.
[2] Expostas por Hegel no capítulo VII da Fenomenologia do Espírito.
[3] HEGEL. Fenomenologia do Espírito. Trad. Paulo Menezes. 3. ed. Petrópolis, RJ: Editora Vozes e Editora Universitária São Francisco, 2005. p. 173.
[4] Ibidem.
[5] Ibidem.
[6] Ibidem. p. 174.
[7] Ibidem. p. 175.
[8] Cf. Ibidem. p. 545.
[9] Ibidem. p. 540.
[10] Das Ding ist Ich.
[11] HEGEL. Fenomenologia do Espírito. Trad. Paulo Menezes. 3. ed. Petrópolis, RJ: Editora Vozes e Editora Universitária São Francisco, 2005. p. 532.
[12] Ibidem. p. 539.
[13] Cremos que este termo é mais apropriado ao pensamento de Hegel do que a idéia de antropoteísmo correntemente usada por Kojève (In: KOJÈVE, Alexandre. Introdução à leitura de Hegel. Trad. Estela dos Santos Abreu. Rio de Janeiro: Contraponto: EDUERJ, 2002). Como tentamos mostrar, não é apenas em Deus que o homem do saber absoluto se encontra a si mesmo. A prova disso é a leitura antropológica que Hegel faz da natureza, na medida em que desenrola o conceito da sua estrutura a partir de moldes baseados seja no homem seja na sociedade humana.
[14] HEGEL. Fenomenologia do Espírito. Trad. Paulo Menezes. 3. ed. Petrópolis, RJ: Editora Vozes e Editora Universitária São Francisco, 2005. p. 31.
[15] É o que nos diz o cientista Raymond Kurzweil em http://globonews.globo.com/Jornalismo/GN/0,,MUL1434904-17665-314,00.html
[16] Bóson de Higgs é uma partícula elementar escalar maciça hipotética predita para validar o modelo padrão atual de partícula. É a única partícula do modelo padrão que ainda não foi observada, mas representa a chave para explicar a origem da massa das outras partículas elementares.